Quartel de Alcântara
Tropa - É a primeira vez que venho a este buraco.
Eu - Já viu a sua sorte em nos ter por cá? *risos*
Com uma vista privilegiada para o rio Tejo, em Alcântara (Lisboa) situa-se o Quartel de Alcântara, pertencente à Marinha.
D. João VI partiu para o Brasil com a Brigada Real da Marinha. Quando regressa, parte mantem-se nesse país, enquanto que a restante distribui-se por instalações mais ou menos precárias por Xabregas, Vale Pereira, Boavista e Alcântara, aqui, aproveitando a localização de um núcleo de cavalaria.
Paredes meias com um convento, o arquitecto José Costa Sequeira preparou a ala limítrofe para que, após a extinção desse edifício de religiosas, os vãos previamente abertos mas deixados entaipados pudessem então ser desobstruídos sem qualquer problema para a estrutura do quartel.
A par da herança histórica do edifício e de fofocas dignas de serem contadas por José Hermano Saraiva, fico a conhecer o nome do Conde de Lippe. Entre inúmeros feitos militares conseguiu acabar com a exclusão dos Algarvios nas forças: considerados menos capazes, era-lhes atribuído trabalhos de menor conta ou, em caso de batalha, colocados na linha da frente carregando os tambores, sendo os primeiros a ser atingidos pela salva inimiga.
Entre uma verdadeira aula de história dada pelo Almirante (do qual me foge agora o nome), onde entra D. Maria, o Duque de Palmela e o Almirante José Maria Dantas Pereira, tropeça-se no colarinho de alcache que, segundo a tradição, as mulheres o beijariam para dar sorte. Imagine-se o "transtorno" para esses marinheiros que se viam "obrigados" a atrasar a sua parada enquanto pela população desfilavam.
Sob o Quartel, estende-se uma ala a qual se especula que tenha servido de prisão, perante vestígios em deixados em alguns azulejos.
Ficamos ainda a saber que, no tempo de D. Maria II a bandeira da Armada, depois de muito se vasculhar o território nacional, foi aparecer em França. Num braço de ferro que durou muitas décadas, os militares nas suas paradas utilizaram um marco que era jocosamente apelidado de "Guião dos Embrulhos". A Marinha apenas tornou a ter bandeira com o aniversário da 1ª República.
"Assinatura odorífera"
O modo de vida no interior dos navios pouco mudou até bem tarde, já no século XIX. Sem modo de refrigeração para acondicionar correctamente os alimentos, o número de animais vivos a bordo era elevado. Registo há de naus que saíam de Lisboa com 100 porcos e mil galinhas.
Os animais variavam de país para país, ou seja, os portugueses carregariam animais diferentes dos holandeses, uma tripulação maioritariamente formada por judeus e onde o porco não faria parte da sua dieta alimentar. Assim dizia-se que marinheiros experientes, das gáveas e com vento de feição, conseguiam distinguir a nacionalidade do navio ainda antes de vislumbrarem a sua bandeira, e tudo graças ao seu "aroma".
Com uma descrição tão colorida, apenas hoje me apercebi do alcance das palavras de Fernão Mendes Pinto ou da dimensão das descrições dos Japoneses perante o avistar dos nossos conterrâneos.
Como curiosidade, fica o RELATÓRIO (cópia) do grupo civil que assaltou o quartel de marinheiros em Alcântara, na noite de 3 para 4 de Outubro de 1910, para a proclamação da República em Portugal. !!!