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Há alturas em que, para onde quer que olhemos, só vemos coisas que nos tentam desencaminhar.
Vade retro!
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Há alturas em que, para onde quer que olhemos, só vemos coisas que nos tentam desencaminhar.
Vade retro!
"Ler é um estímulo intelectual ímpar. Os próprios neurologistas dizem que o cérebro muda com a leitura, torna-se mais competente (...)".
Na Revista de fofoca Nova Gente, n.º 1863, 28/5 a 03/06, pp. 92-94 surge um simpático apontamento sobre duas professoras que há 30 anos recorrem à receita ímpar para estimular a imaginação e o pensamento em si: as aventuras.
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada que hoje ganham 50 cêntimos por livro, escrevem a coleção "Uma Aventura" por gosto.
"Ela (Enid Blyton) inventou um modelo de livro que não existia: de aventuras vividas por crianças da idade dos leitores, com um momento inicial, outro de grande perigo, seguido de outro que acaba bem. (...)" "Muitas das histórias passam-se em castelos, em museus, em sítios históricos. E isso acho que não existia no mercado. Os Cinco são livros muito giros, mas passam-se em locais imaginários."
(seleccionar a imagem para aumentar)
imagem retirada de A Livreira Anarquista.
Volta e meia fico lamechas e choramingo, não perante o cliché Samantha Fox mas perante as barbáries aos nossos valores.
Quando me debruço naquele varandim ou me encosto às colunas, e vejo todo um potencial que se perde por falta de visão, de gosto à camisola, de processos que nunca são analisados no terreno mas, quiçá, por interesses individuais.
Retirar o Museu dos Coches do seu local actual, considero um desvirtuar de todo o seu conceito: uma garagem que expõe carros de luxo que neste caso, são coches barrocos, rococós e neoclássicos.
A construção de um gigantesco museu de linhas depuradas e impessoais sob o mote de se agregar os veículos do género espalhados no país e o de oferecer uma melhor visibilidade aos objectos será, no limite, como o querer colocar um graffiti numa galeria de arte contemporânea.
Na falta de melhor termo: é parvo.
Se os Portugueses têm um longo historial de reaproveitamentos, seria assim tão obsceno repensar o actual Picadeiro Real para que continuasse a albergar estes espampanantes objectos?
O museu não é apenas um espaço, mas a envolvência criada pelos visitantes. A função primeira destes veículos de aparato não é o serem tratados como algo pertencente à alta cultura, mas sim de ofuscar a população.
Estando numa época onde nos querem fazer crer que os valores económicos falam sempre mais alto que os outros, aqueles!, aos que chamamos de valores culturais ou de capital humano, o Observatório Nacional diz que uma grande fatia das visitas pagantes é oriunda do estrangeiro.
Assim, se hoje vendemos Portugal como um país com identidade (o Fado, será o exemplo mais visível), questiono-me se estes visitantes quererão entrar num museu de "vanguarda arquitectónica", de traça igual a tantos outros existentes mundo fora ou se preferirão um velhinho Picadeiro Real, com toda a sua carga simbólica e que, mais não seja, pela razão de ser mais antigo que a grande maioria da construção urbana existente nos EUA.
Reabilite-se os museus existentes e que se aposte naqueles que façam falta, p.ex. para albergar o espólio "escondido" do MNAA ou do Museu do Chiado.
A Cultura agradece.
Deixo uma análise a frio da arquitectura e urbanismo, sem o que é apelidado de "poética laudatória aos amadorismos do ‘gosto"".
Em museus, proteja as obras.
Seja criativo. Não use o flash.
"Deus nos livre se a populaça desconfiar que o mundo em que vivemos é injusto, feio e corrupto.
Deus nos livre se acordarem para a vida e tentarem mudar alguma coisa."
SILVA, Luís Filipe (org.), Os anos de ouro da Pulp Fiction Portuguesa - Os melhores contos do séc. XX,
São Pedro do Estoril, Saída de Emergência, 2011, p. 34.
Este parágrafo (que na verdade não passa de um cliché) do imaginário pertencente às massas começa aos poucos a saltar para a realidade.
Isto, para grande receio do poder instituído.
Hoje, os Precários Inflexíveis trazem mais um exemplo: uma empresa apadrinhada pela Lei e que não gosta ver espelhada em praça pública a sua vergonhosa conduta:
"Nenhuma das empresas (ou talvez a mesma com nome diferente) avançou com qualquer processo ou queixa contra quem escreveu os comentários. Portanto, o que preocupa a administração da empresa é a liberdade de expressão na internet. O mesmo preocupa o Tribunal."
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“Ao PÚBLICO, João Camargo, dos Precários Inflexíveis, sustentou que a decisão judicial “tem várias falhas processuais” e “é contrária aos princípios do Estado democrático”. “O que as pessoas [autores dos comentários] fizeram foi expor várias ilegalidades. E o tribunal, em vez de analisar se há ali matéria para actuar, determina que é preciso esconder tais comentários”, indignou-se.
Espionagem, bases secretas nazis no Alentejo, xenofobia, racismo ou machismo, imaginário saído de contos de Poe ou monstruosidades lovecraftianas, pirataria, westers, pornografia, gritos de revolta dissimulada, censura do Estado Novo ou heróis (?!) sanguinários com nomes coloridos como Jaguar Cabala.
De tudo há nesta edição fac-similada de Pulp Fiction à Portuguesa de alta qualidade. Até que o "Ano Negro" chegou e arrebentou com tudo.
SILVA, Luis Filipe (org.), Os anos de ouro da Pulp Fiction Portuguesa - Os melhores contos do séc. XX, São Pedro do Estoril, Saída de Emergência, 2011.
Se este desfile tem elementos e um discurso com o qual as pessoas se identificam ("dos tempos dos avós era assim" ou "eu recordo-me de algo semelhante em..."), se a população se diverte e participa (!), porque é que continuamos a insistir nos Carvanais brasileiros?
Pareço um disco riscado.
Informação adicional: VII Festival Internacional da Máscara Ibérica.