Um homem perdeu a mulher num acidente e vê-se envolvido numa conspiração empresarial relacionada com as novas tecnologias, aka, internet (compras, vendes, serviços e afins)
Este será um modo simplista (ainda que verdadeiro) de descrever um livro de acção maçadora. "Boring", recorrendo ao estrangeirismo em voga.
A sua mais valia é a profunda reflexão e o desejo despertado em saber mais sobre a temática relacionada com a interacção dos utilizadores com a internet e como tal (pode) afecta o nosso metabolismo.
Parte disto, poderá justificar o aparente horror ao verdadeiro ócio, ao simples prazer do "não fazer nada".
Matt RICHTEL faz um apanhado muito mordaz. Eis um:
"Faziam parte da geração da "lista das coisas a fazer" - indivíduos que queriam experiências novas, umas atrás das outras, (...)"Gostavam era de cortar um item da lista, gostavam de ter feito."
RICHTEL, Matt, "Viciado", Lisboa, Dom Quixote, 2007, p. 135
Quantas e quantas vezes ouvimos dizer: "não posso viver sem telemóvel/ internet"?
Palavras como vicio, adrenalina, entusiasmo, são as bases desta romanceada reflexão que mistura a neurociência ao serviço do marketing (agressivo).
Medidas como programas de desenvolvimento da internet e facilitá-las gratuítamente ou a título irrisório a toda a população, são defendidas por algumas personagens. Não pelo seu carácter benemérito, mas por ser considerado o negócio do futuro: através de programação, estimular o público ao consumo - basicamente, a eterna teoria da manipulação.
O tema não será novo: o mesmo foi abordado e ampliado aquando do boom da televisão: recordam-se dos X-Files?
Tútú-tútú-rúrúúú
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RICHTEL, Matt, "Viciado", Lisboa, Dom Quixote, 2007.
"Ao mesmo tempo, Kindle e os seus amigos não perdem os lucros de vista, e crêm que os ganhos surgirão quando as pessoas começarem a usar os gadgets para comprar produtos e serviços através da Internet (...)". "O slogan deste conceito poderia ser: liguem-se primeiro, cobrem depois."
"Viciado", p. 142.
"Ou seja, o grau de prazer que obtêm através do computador equivale a uma pura experiência física." (...) "Lembrem.se que a essência de ganhar dinheiro na Internet não é apenas conseguir juntar a maior quantidade possível de olhos. Isso já falhou e as empresas dot com foram à falência. O importante è mantermos os potenciais clientes interessados, proporcionando-lhes uma experiência altamente intensa e interactiva".
"Viciado", p. 306.
"Psicólogos de todo o país dão conta de um aumento no número de pessoas que se declaram "viciadas" em computadores e no uso da Internet. Tal fenómeno - que leva as pessoas a surfar compulsivamente na Internet, a verificar o voice mail e a utilizar o telemóvel, com frequência ao mesmo tempo - foi anteriormente considerado um acto de escolha livre."
"Viciado", p. 346
"Igualmente não comprovado é o aparecimento do que alguns psicólogos consideram um nova série de casos de extrama adição a computadores (...). "Esta "doença" provoca a execução compulsiva e frequente de múltiplas tarefas, bem como a necessidade urgente de preencher a vida com estímulos ou distracções. Os "pacientes" sentem-se aborrecidos quando não têm nada para fazer e procuram desesperadamente qualquer actividade, um objectivo, nem que seja discutir - o tipo de tendência emocional a que os psicanalistas freudianos chamam drama."
"Viciado", p. 347